domingo, 14 de agosto de 2011

Brasil Afora: ascensão dos Guaranis cearenses e suas curiosas histórias

10/08/2011 13h17 - Atualizado em 10/08/2011 13h17


De Sobral e Juazeiro do Norte, buscam espaço nas séries C e D. Um tem Poderoso Chefão, outro, fanático que rejeita mulher de olhos da cor do rival

Por Diego Morais Fortaleza, CE
Foto do Guarany de Sobral campeão do 1º turno do Cearense de 1970 (Foto: Divulgação / Guarany de Sobral)Guarany de Sobral, em rara foto dos anos 1970
(Divulgação/Guarany de Sobral)
No ano de 1970, o Campeonato Cearense ainda era disputado em três turnos. No primeiro deles, de pontos corridos, o Guarany de Sobral sagrou-se campeão. Na época, a façanha deu ao time sobralense o terceiro lugar geral na competição. Um time que havia sido fundado 32 anos antes, se profissionalizado em 1949, e disputava a 1ª Divisão Cearense apenas pela quarta vez. Esta foi a primeira grande conquista de um clube que ainda nem imaginava ser um dia o primeiro time cearense a se tornar Campeão Brasileiro - ainda que da Série D.
Também no início da década de 1970, um outro Guarani surgia para o futebol cearense lá na cidade de Juazeiro do Norte - a 495 quilômetros de Fortaleza. O clube, que havia sido fundado em 1941, disputava apenas em 1973, pela primeira vez, o Campeonato Estadual. Quando o time do Cariri chegou ao quarto lugar da competição em 1979, a torcida apaixonada vivia o momento mais importante até então.
São histórias diferentes. Ainda assim, como times do interior de um estado onde o futebol é repleto de dificuldades financeiras, não há como não comparar a trajetória de ambos, que levam o mesmo nome e as mesmas cores no uniforme. Com personagens pitorescos, como o dirigente Luiz Torquato, o "Poderoso Chefão" cearense, ou o "Seu Santos", o torcedor que rejeitou mulher de olhos verdes por causa da cor do clube rival, hoje os clubes buscam se firmar na imensidão do futebol brasileiro.
Porta para o Brasil
O torcedor mais curioso, que antes do início de toda competição gosta de conferir quem o seu time vai enfrentar, já reparou que o Ceará tem dois Guaranis em diferentes divisões do Brasileiro deste ano. Na Série C, o representante vem de Sobral. O Cacique do Vale, como é popularmente conhecido o bugre sobralense, disputa a 3ª Divisão Nacional pela terceira vez. Já o Guarani de Juazeiro vive um momento histórico ao chegar, na Série D, a uma competição nacional pela primeira vez em seus 70 anos de existência.
Mas para disputar um Campeonato Brasileiro - e se manter - esses times precisam, basicamente, de três elementos: organização, dinheiro e sorte. Conhecendo um pouco mais sobre a trajetória deles, ficará mais fácil entender como esses elementos se encaixam.
Guarany de Sobral comemora título da Série D (Foto: Kiko Silva/Agência Diário)Guarany de Sobral comemora título da Série D (Foto: Kiko Silva/Agência Diário)
O futuro é agora
Depois de chegar tão longe em sua trajetória, o Guarani de Juazeiro quer mais. A Série C é uma meta nem tão inalcançável quanto se pensa. O time está num grupo equilibrado da Série D - excetuando-se a presença do Santa Cruz. Na mesma chave estão ainda: Santa Cruz-RN, Alecrim-RN e Porto-PE.
O time rubro-negro precisa agora enfrentar as dificuldades financeiras em se bancar praticamente sozinho na competição. O elenco perdeu algumas peças importantes que foram bem no Campeonato Cearense, como os atacantes Niel e Netinho e o meia Jérson.
- Nós vamos ficar viajando de ônibus por enquanto. Se conseguirmos passar para a próxima fase, podemos pensar em viajar de avião e investir mais no elenco - declarou o presidente do Guarani, José Moura.
Já em Sobral, os dirigentes do clube precisam contar com mais investimentos para que o time consiga o acesso à Série B novamente. O time tem como principal adversário no grupo o Fortaleza, que busca voltar a figurar entre os grandes do Brasil. Além deles, estão na mesma chave: CRB-AL, Campinense-PB e América-RN.
- Nós somos os mais pobres da chave, os que têm mais dificuldades, mas temos mais vontade de sermos campeões - informou o presidente do Guarany de Sobral, Luizinho Torquato.
Luiz Torquato, presidente do COnselho Deliberativo do Guarany de Sobral (Foto: Kiko Silva / Agência Diário)Luiz Torquato, verdadeiro cacique no Guarasol
(Foto: Kiko Silva / Agência Diário)
Um cacique para várias gerações da tribo
Ser considerado o primo pobre do grupo na Série C não é uma visão tão exagerada assim para o Guarany de Sobral. Ao lado de clubes que desfilavam por Séries A e B até bem pouco tempo, o Guarasol tem uma história bem peculiar e ainda busca se firmar como uma potência do futebol nordestino.
O Cacique do Vale faz referência aos índios guaranis, uma das maiores tribos indígenas brasileiras; e ao Vale do Acaraú, região na qual está localizada a cidade de Sobral. Mas bem que o tal cacique poderia fazer alusão ao atual presidente do Conselho Deliberativo do clube, Luiz Torquato, que comanda o futebol no Guarany desde 1982.
Na época, o clube vivia um período complicado financeiramente. Depois de ter conquistado o 1º turno do Campeonato Cearense, em 1970, o Guarany estava no limbo do futebol cearense. Sem forças para reagir e devendo salários a jogadores e funcionários no final dos anos 70, os conselheiros recorreram ao nome de Luiz Torquato, que sequer estava ligado ao futebol.
- Eu era do ramo de cavalos. Nunca tinha me envolvido com futebol antes. Mas tinha dinheiro e resolvi bancar o time - declarou Luiz Torquato.
Com o investimento de Luiz Torquato, o clube sobralense ganhou fôlego. Logo em 1983, fez ótima campanha no estadual, terminando em terceiro lugar, o que possibilitou ao Guarany disputar a Taça de Prata no mesmo ano, o que equivaleria à Série B de hoje.
Por ser longa, a administração de Luiz Torquato viveu altos e baixos durante esses quase 30 anos. O clube, aliás, parece ser dependente da força dos Torquato e vice-versa. E quando se fala em "Os Torquato" é porque não é só o pai que gerencia o Cacique do Vale. Hoje, o presidente é o filho Luzinho Torquato, mas um dia também já foi a esposa do velho Torquato.
O manda-chuva do futebol sobralense tem sempre declarações ácidas e é quase um mito local. Quando ele cansa do cargo de presidente, coloca alguém da família. No entanto, está sempre por perto para dar a palavra final ou, até mesmo, um bom conselho - como se fora um Don Corleone cearense.
Sobral conquista o Brasil
Na saga do Poderoso Chefão cearense, a maior conquista de toda a história do clube só veio no ano passado. O Guarany de Sobral superou adversários tradicionais, como o Santa Cruz-PE, e as dificuldades financeiras para levantar o troféu de campeão brasileiro da Série D.
A partida decisiva foi contra o América-AM. O time sobralense havia arrancado empate em 1 a 1 no jogo de ida. Na volta, o Estádio do Junco estava lotado pela torcida rubro-negra. O resultado: uma sonora goleada por 4 a 1. Um momento em que o Cacique do Vale marcou seu nome no futebol brasileiro.
- Foi nosso momento mais marcante. Colocou o Guarany na história. Nós temos o que nenhum clube cearense conseguiu até hoje - ressaltou Luiz Torquato.
Guarani Final Cearense (Foto: José Leomar / Agência Diário)Estadual 2011: melhor campanha da história
(Foto: José Leomar / Agência Diário)
Demorou 70 anos
Lá em Juazeiro do Norte, bem longe da capital Fortaleza, ou da bela Sobral, outro Guarani rubro-negro busca também fazer história. E se tem um momento com todas as ferramentas para que isso aconteça, pode apostar que este ano é 2011.
O Guarani de Juazeiro tem 70 anos de vida, mas o bom velhinho rubro-negro nunca esteve entre os protagonistas do futebol cearense. Sempre na rivalidade ferrenha com o Icasa ou, se buscar nos antepassados, com o futebol do Crato (cidade vizinha a Juazeiro do Norte), o Guarani acabou ficando à margem das grandes disputas regionais.
Mas os últimos anos foram de reformulação no rubro-negro. O clube sofreu mais um descenso de divisão estadual em 2008. No ano seguinte, a equipe precisava deixar o estigma de saco de pancada para reagir no futebol cearense. O Guarani mudou de diretoria e conseguiu o acesso à primeira divisão estadual já em 2009.
No ano passado, o time fez campanha apenas mediana na 1ª divisão do Campeonato Cearense, mas suficiente para se manter entre os grandes. O clube e a gestão se profissionalizaram, e o resultado mesmo veio este ano. O Guarani conseguiu surpreender os adversários e alcançar o vice-campeonato do 2º turno do Campeonato Cearense. A boa campanha deu ao time a vaga cearense na Série D do Brasileirão.
- Nós pegamos mais experiência e organizamos mais o clube. Foi isso que nos deu força para chegar até aqui - explicou o presidente do Guarani, José Moura.
Seu Santos, torcedor-símbolo do Guarany de Juazeiro (Foto: Arquivo Pessoal / Seu Santos)Seu Santos, no meio, e sua poesia ao Leão do
Mercado (Foto: Arquivo Pessoal / Seu Santos)
Em Juazeiro, o Leão é rubro-negro
Depois de conquistar uma vaguinha na Série D, o Guarani de Juazeiro conquistou o respeito e o devido espaço no futebol cearense. Na terra onde o leão forte é o Fortaleza, o time do Cariri mostrou que um outro felino pode mostrar as garras.
O Leão do Mercado - como é conhecido o Guarani - tem torcedores fanáticos. Um deles é o professor de escola pública Francisco Santos Silva, ou, como ele gosta de ser chamado, "Seu Santos".
- Sou Guarani desde que o espermatozoide do meu pai encontrou o óvulo da minha mãe - brincou Seu Santos.
Seu Santos coleciona fotos e casos históricos de toda a trajetória do Guarani e é famoso na cidade pelos versos e cordéis que faz para o time de coração. Como ele mora na mesma avenida do Estádio Romeirão - onde o Guarani manda seus jogos -, Seu Santos acaba dando duas ou três viagens para levar todos os amigos e torcedores aos jogos.
Para a Série D, a expectativa do torcedor é que o time chegue o mais longe possível e, de preferência, ascenda à Série C, onde pretende encontrar o rival Icasa (que hoje disputa a Série B).
Seu Santos é tão fanático pelo time que ninguém na família dele pode torcer para o rival. Aliás, não é só torcer. Na casa dele, ninguém usa nada verde.
- Uma vez comecei a paquerar uma moça. Marcamos de nos encontrarmos, e só então eu percebi que os olhos dela eram verdes. O romance acabou na hora - lembrou o torcedor do Guarani.
O sonho maior de Seu Santos é lançar um livro com a história do Guarani de Juazeiro. Se depender da criatividade e bom humor dele, podem apostar que será uma agradável leitura.
  fonte-Globoesporte.com
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